G1
São Paulo/SP
O dólar fechou em queda nesta sexta-feira (6), cotado a R$ 5,5696. É o menor patamar desde outubro. O Ibovespa encerrou o dia em leve queda de 0,10%, aos 136.102 pontos.
Mais uma vez, desdobramentos da guerra comercial entre Estados Unidos e China ficaram no radar dos investidores. Nesta sexta, Trump disse que os dois países vão se reunir na próxima semana para discutir um novo acordo.
O mercado também reagiu à divulgação do payroll, relatório que mostra a situação dos empregos nos EUA, que veio mais forte do que o esperado. O resultado alivia temores sobre uma piora acelerada no mercado de trabalho e reforça a leitura de que a atividade está desacelerando, mas sem colapsar.
Outra tema importante é a briga entre Trump e o bilionário Elon Musk. Na quinta-feira (5), os ex-aliados trocaram ataques nas redes sociais, o que fez as ações da montadora despencarem mais de 14% (entenda a briga abaixo).
No Brasil, o mercado espera que o governo explique como pretende compensar a provável revogação do aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF). O anúncio deve ocorrer na semana que vem.
Entenda abaixo como cada um desses fatores impacta o mercado.
Dólar
Acumulado da semana: -2,60%;
Acumulado do mês: -2,60%;
Acumulado do ano: -9,87%.
Ibovespa
Acumulado da semana: -0,67%
Acumulado do mês: -0,67%;
Acumulado do ano: +13,15%.
Dados de emprego nos EUA
O mercado de trabalho dos Estados Unidos criou 139 mil vagas em maio, número acima da expectativa dos analistas, que previam 130 mil. A taxa de desemprego permaneceu estável em 4,2% pelo terceiro mês seguido, de acordo com o payroll divulgado nesta sexta.
Apesar de sinalizar uma desaceleração em relação aos meses anteriores, os dados afastam os temores de uma deterioração mais grave na economia americana.
O resultado veio em meio às incertezas causadas pelas disputas comerciais e pelos impasses políticos internos, como a resistência ao pacote fiscal de Trump e a tensão com líderes empresariais.
Ainda assim, a criação de empregos acima do necessário para acompanhar o crescimento populacional mostra uma resiliência do mercado de trabalho.
Com isso, o relatório dá ao Federal Reserve margem para adiar um possível corte de juros. A expectativa dos mercados é de que a taxa básica seja mantida na reunião da próxima semana, com a possibilidade de novos estímulos considerados apenas a partir de setembro.
Nesta sexta-feira (6), Trump voltou a pedir que o Fed reduza as taxas de juros norte-americanas, reiterando sua visão de que o presidente do Fed, Jerome Powell, tem sido muito lento em afrouxar a política monetária do BC dos EUA.
Trump x Xi Jinping
Os presidentes dos Estados Unidos, Donald Trump, e da China, Xi Jinping, conversaram por telefone na quinta-feira (5) para tratar sobre o acordo comercial temporário recentemente firmado pelas duas potências, em 12 de maio.
"A conversa durou aproximadamente uma hora e meia e resultou em uma conclusão muito positiva para ambos os países. Não deve haver mais dúvidas quanto à complexidade dos produtos de Terras Raras", afirmou Trump em publicação no Truth Social, sem dar mais detalhes sobre a conversa com o líder chinês.
Mais tarde, em entrevista a jornalistas, Trump disse que as conversas entre os dois países continuam em andamento e estão em "boa forma", reiterando que representantes das duas potências devem se reunir em breve, em local a ser definido, para discutir o tema.
A tão aguardada ligação acontece em meio a acusações entre Washington e Pequim nas últimas semanas sobre minerais essenciais em uma disputa que ameaça destruir uma trégua frágil na guerra comercial entre as duas maiores economias.
Os países fecharam um acordo de 90 dias em 12 de maio para reverter algumas das tarifas de retaliação que haviam imposto um ao outro desde a posse de Trump em janeiro.
Embora as ações tenham se recuperado, o acordo temporário não abordou preocupações mais amplas que prejudicam o relacionamento bilateral, desde o comércio ilícito de fentanil até o status de Taiwan, governado democraticamente, e as reclamações dos EUA sobre o modelo econômico chinês dominado pelo Estado e voltado para a exportação.
As negociações estão sendo acompanhadas de perto por investidores preocupados com a possibilidade de uma guerra comercial caótica prejudicar os lucros corporativos e interromper as O mercado entende que o aumento das tarifas sobre importações pode elevar os preços finais e os custos de produção, pressionando a inflação e reduzindo o consumo — o que pode levar à desaceleração da maior economia do mundo e até a uma recessão global.
Além disso, no último capítulo da guerra de tarifas nesta semana, Trump assinou um decreto para dobrar as taxas sobre importações de aço, alumínio e derivados no país de 25% para 50%, o que afeta diretamente o Brasil.
A ação ocorre em um momento em que os EUA buscam negociações mais vantajosas com os países afetados pelo tarifaço imposto no início de abril.
Embora as taxas tenham sido parcialmente suspensas, elas serão retomadas integralmente em 8 de julho — e têm servido como ferramenta do presidente na tentativa de firmar acordos mais favoráveis com outras nações.
No começo desta semana, Trump indicou que vai pressionar os países para apresentarem propostas "melhores" nas negociações comerciais com os EUA.
Novos acordos à frente?
O presidente norte-americano também afirmou que espera fazer um "bom acordo comercial" com a Alemanha. O republicano se reuniu nesta quinta-feira com o chanceler alemão, Friedrich Merz.
"Nós teremos um grande acordo comercial. Acredito que isso será majoritariamente determinado pela União Europeia, mas vocês são uma parte muito importante disso", disse o republicano a Merz no Salão Oval.
"Espero que cheguemos a um acordo ou faremos algo, sabe, aplicaremos tarifas", completou.
Nesta sexta-feira, Merz afirmou que buscará um acordo com os Estados Unidos segundo o qual os carros norte-americanos poderão ser importados para a Europa com isenção de impostos em troca de isenções de tarifas sobre o mesmo número de veículos exportados da região para o país.
"Temos que ver se podemos chegar a uma regra de compensação ou algo nesse sentido", disse, em um evento em Berlim, poucas horas depois de sua viagem a Washington.
Trump ainda disse que quer fazer com que os novos acordos comerciais feitos pelos EUA com seus parceiros incluam cláusulas que tratem sobre petróleo e gás.
Durante a tarde, o ministro de relações internacionais da Itália também afirmou estar confiante de que um acordo entre EUA e União Europeia deva sair até o prazo final de 9 de julho. "As negociações não estão indo mal", disse, sugerindo que seria possível chegar a um acordo com base em tarifas de 10% entre os dois lados.
Trump x Musk
Os atritos entre o presidente norte-americano e o bilionário Elon Musk também mexeram com os mercados financeiros nesta quinta-feira.
Após o presidente da Tesla criticar o pacote orçamentário da gestão Trump, o republicano afirmou que estava "muito decepcionado" com Musk, ameaçando cortar os contratos com o bilionário.
Entenda a sequência da briga a seguir:
Durante um encontro com o chanceler alemão Friedrich Merz, na Casa Branca, Trump afirmou estar decepcionado com Elon Musk por causa das críticas que o bilionário fez ao projeto de lei orçamentária que tramita no Congresso.
Trump disse que Musk já sabia que o projeto seria enviado ao Congresso e que não sabe se eles terão "uma ótima relação como antes".
Pouco depois, Musk respondeu pela rede social X. Ele negou ter sido informado sobre o projeto e afirmou que Trump estava sendo ingrato: “Sem mim, Trump teria perdido a eleição”.
Em seguida, Trump reagiu no Truth Social com uma ameaça: “A maneira mais fácil de economizar bilhões e bilhões de dólares em nosso Orçamento é encerrar os subsídios e contratos governamentais de Elon Musk”.
Trump também afirmou que “mandou Musk embora” do governo porque ele estava o “irritando”. Disse ainda que retirou o “Mandato dos Carros Elétricos” e que o bilionário “ficou louco”.
O “mandato” citado por Trump é uma referência às políticas de eletrificação do setor automotivo e descarbonização adotadas durante o governo Biden.
Musk voltou a responder no X, dessa vez acusando Trump de estar ligado ao escândalo sexual envolvendo Jeffrey Epstein: “Donald Trump está nos arquivos de Epstein. Essa é a verdadeira razão pela qual eles não foram tornados públicos”.
Impasse do IOF
No Brasil, a crise do governo após o anúncio do aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), há duas semanas, também continua a mexer com os mercados.
A elevação do IOF foi proposta há duas semanas, junto com um bloqueio de R$ 31,3 bilhões no orçamento deste ano. O objetivo era o de equilibrar as contas públicas e cumprir a meta fiscal.
No entanto, o mercado reagiu mal à decisão, o que levou o governo a recuar no mesmo dia de parte da medida. Além disso, o Congresso começou a se movimentar para aprovar uma derrubada do decreto presidencial sobre o aumento de imposto, algo inédito nos últimos 25 anos.
O governo, então, buscou os presidentes da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), e do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), e negociou um prazo de dez dias para apresentar uma proposta alternativa que substitua parte dos ganhos que seriam obtidos com o novo IOF.
Segundo o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, a proposta foi apresentada nesta terça-feira (3), mas só será divulgada ao público na semana que vem. Até lá, a alta do IOF continua.
No início da semana, o presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, reforçou sua posição crítica em relação ao aumento do IOF.
“Sempre tive a visão de que a gente não deveria usar o IOF nem para questões arrecadatórias nem para apoiar política monetária. Acho que é um imposto regulatório, como está bem definido”, afirmou Galípolo, durante evento com analistas do mercado financeiro.