Repórter MT
O professor Admilson Costa da Cunha, do Instituto Federal de Mato Grosso (IFMT) de Cáceres (225 km de Cuiabá), desenvolveu a primeira cerveja de Bocaiúva. O produto, inédito no Brasil, foi resultado de sua pesquisa de doutorado em Ciência e Tecnologia dos Alimentos, na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM).
“O objetivo desta invenção foi a produção de uma cerveja adicionada de polpa de bocaiuva com frutos colhidos em Cáceres, no pantanal mato-grossense. A cerveja apresenta características sensoriais únicas e com forte apelo cultural e regional”, afirma o professor Admilson.
O doutorado foi realizado na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), sob a orientação do professor Cristiano Augusto Ballus, doutor em Ciência de Alimentos. Para proteger a invenção e garantir os direitos autorais do produto, o IFMT, por meio da sua Agência de Inovação Tecnológica em conjunto com a UFSM realizou o depósito com pedido de patente no Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI).
De acordo com Admilson, a ideia de desenvolvimento de uma cerveja com uma palmeira nativa como a bocaiuva partiu da experiência do trabalho realizado em projeto de ensino e extensão do IFMT em Cáceres com mulheres camponesas no curso de Formação Inicial e Continuada de Preparadora Cervejeira Artesanal, no Programa Teresa de Benguela.
Durante o curso, mulheres assentadas e acampadas da Reforma Agrária das comunidades do Facão (Cáceres-MT) e do assentamento Roseli Nunes (Mirassol D’Oeste-MT) produziram as cervejas artesanais Cabocla Serrana e Crioula.
“No doutorado eu me dediquei à pesquisa para desenvolver uma cerveja inédita com ingrediente que fizesse parte das culturas dessas comunidades e aí chegamos na produção e caracterização desta cerveja com Bocaiuva. Então, esse é um produto desenvolvido em homenagem às mulheres camponesas do pantanal mato-grossense”, afirma Admilson.
Para Fernanda Marques Caldeira, chefe de Departamento de Inovação Tecnológica do IFMT (DPIT), a proteção de invenções como está e o incentivo à inovação tecnológica podem abrir novos caminhos, a partir do incentivo à pesquisa, para o desenvolvimento de novos produtos que valorizem a riqueza da flora nativa com responsabilidade socioambiental.
O projeto foi aprovado pelo edital de fomento do IFMT nº 95/2023 com financiamento do DPIT para o desenvolvimento de alto nível de maturidade tecnológica.
Com o nome científico de Acrocomia aculeata, a bocaiuva é encontrada em estados como Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais e Goiás, sendo amplamente espalhada pelas áreas de Cerrado. O seu fruto tem forte ligação com as culturas das comunidades nos territórios em que são colhidos em atividade extrativista.
A polpa ou amêndoa pode ser consumida in natura e é utilizada em diversas tradições culinárias. No Pantanal é componente de receitas típicas de sorvetes, doces, bolos e licores, transmitidas de geração em geração. Segundo informações do Horto Botânico do Museu Nacional ligado à Universidade do Estado do Rio de Janeiro, a polpa da Bocaiuva é classificada como rica em cobre, zinco e potássio.