Mariana da Silva/GD
Com maior foco na carreira e em realizações pessoais, a maternidade tem chegado mais tarde para as mulheres em várias partes do mundo. O Censo mais recente mostra que a idade com maior registro de gestantes em Mato Grosso avançou de 20 a 24 anos em 2010, para entre 25 e 29 anos em 2022. Os bebês nascidos de mães após os 45 anos mais que dobraram na última década, saltando de 212 para 503 (137%). Isso se deve a diversas questões sociais e econômicas, mas o avanço da medicina também ajuda a explicar a gestação cada vez mais tarde
Segundo dados do Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2022, 10.607 mulheres engravidaram entre os 30 e 34 anos, já em 2010 as gestações nesta idade eram 7.238, aumento de 46%. 6.640 mulheres tiveram filhos dos 35 aos 39, o dobro do registrado há 12 anos, quando 3.053 deram à luz nesta idade, diferença de 54%.
Em 2010, 840 mulheres foram mães entre 40 e 44 anos. O número subiu para 2 mil partos de mulheres nesta faixa etária em 2022, aumento de 138%. Com idade mais avançada, de 45 a 49 anos, última faixa contabilizada na pesquisa, houve 212 partos em 2010 e 503 em 2022, aumento de 137%.
O número de mães jovens caiu, comparando um Censo e outro. Em 2010 eram 8.071 mães entre 15 e 19 anos, agora são 6.303 nesta idade.
IBGE
Em entrevista, a ginecologista e obstetra, especialista em endometriose e infertilidade, Giovana Fortunato, pondera que são muitos os fatores que contribuem para uma gravidez depois dos 35 anos.
“O aumento do número de mulheres que optam por engravidar após os 30 é influenciado por diversos fatores, principalmente relacionados a mudanças sociais e avanços tecnológicos. A busca por educação superior e desenvolvimento profissional, a maior participação feminina no mercado de trabalho, o uso de métodos contraceptivos eficazes e a possibilidade de tratamentos de reprodução assistida são alguns dos principais impulsionadores dessa tendência”, explica a médica.
Porém, segundo a ginecologista, gerar um filho depois dos 35 já é considerada de risco, inclusive pelo Ministério da Saúde, devido à vulnerabilidade a diferentes tipos de complicações gestacionais.
“Algumas dessas complicações são hipertensão, alterações cardiovasculares, diabete gestacional, alterações metabólicas, parto prematuro e aborto. Também há riscos aumentados ao bebê, tanto de formação de embriões aneuploides — resultando, por exemplo, a síndrome de Down ou síndrome de Edwards — como de outros tipos de má-formação fetal. Por isso, após os 35 anos, é indispensável que a paciente faça um pré-natal ainda mais atencioso e cuidadoso. Entretanto, tais ocorrências não devem desestimular a mulher que deseja ser mãe, independentemente da idade”, afirma.
Com o avanço da medicina, atualmente é possível desde minimizar os riscos para a mãe e o bebê, proporcionando o acompanhamento pré-natal abrangente, exames de diagnóstico precoce, e tratamentos específicos para condições maternas e fetais, além, inclusive, de proporcionar à mulher a escolha de uma reprodução assistida.
“A reprodução assistida, incluindo o congelamento de óvulos, tem sido uma alternativa segura para mulheres que desejam adiar a maternidade, permitindo que elas escolham o momento ideal para engravidar. Embora não exista um 'prazo ideal' universalmente definido, a qualidade dos óvulos tende a diminuir com a idade, recomendado o congelamento idealmente antes dos 35 anos. Muitas mulheres optam por adiar a maternidade por razões pessoais ou profissionais, e o congelamento de óvulos oferece a possibilidade de preservar a fertilidade para o futuro”, orienta a profissional.
Segundo a médica, o procedimento está se tornando ainda mais comum no Brasil, proporcionando à mulher a chance de engravidar com seus próprios óvulos.
“O método tem se popularizado, mas ainda é considerado inacessível para muitas mulheres devido ao alto custo, especialmente em clínicas particulares. Não há no momento essa opção no serviço de saúde público. Porém, atualmente, existem diversos tratamentos que auxiliam na fertilidade após os 40, como a inseminação artificial, a fertilização in vitro (FIV), o congelamento de óvulos e a ovodoação”, esclarece.
Por outro lado, a professora e socióloga Christiany Fonseca explica que a decisão de postergar a maternidade está fortemente relacionada a maior presença feminina no mercado de trabalho. Ao lado de priorizar a carreira, há também o objetivo de dar uma melhor qualidade de vida para ela e seu filho.
“Há atualmente o desejo das mulheres de investirem nas suas formações acadêmicas, nas suas carreiras profissionais antes de realmente assumirem essas responsabilidades que são familiares. Por ela buscar uma melhor criação para seus filhos, ela opta por uma estrutura socioeconômica mais sólida”, argumenta a socióloga.
Ela acredita que as mulheres optam por engravidar depois dos 30 anos, por acreditar que terão estabilidade, autonomia e estrutura financeira e profissional nesta idade.
“Atualmente, nós temos uma mulher que está no mercado de trabalho, mas que ainda não tem uma paridade de poder e até mesmo salarial com relação aos homens. Então, isso faz com que elas acabem se entregando mais ao trabalho para que sejam reconhecidas pelas suas habilidades e formação, e postergando a gravidez”, justifica a estudiosa.
Porém, mesmo focando em sua carreira, a mulher ainda sofre a pressão social de ter um filho. Condição que não mudou com os anos.
“Então, eu vou usar um teórico da sociologia para falar sobre isso, que é o Émile Durkheim. Ele vai falar que a sociedade se sobrepõe ao indivíduo, ou seja, por meio das suas instituições sociais ela acaba impondo sobre esse indivíduo como ele deve agir, pensar e sentir. Então ele vai cobrar da mulher o casamento, com o tempo começa a cobrar que ela tenha filhos. As normas e valores da sociedade são que uma mulher para ser legitimada como tal, ela precisa casar e procriar”, finaliza.