André Souza/GD
Uso de agrotóxicos no cultivo de algodão em Mato Grosso tem impactado a saúde da população indígena, revela estudo feito pela Operação Amazônia Nativa (Opan) em parceria com o Instituto de Saúde Coletiva (ISC), da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT).
Segundo o levantamento, nos últimos 10 anos o Estado registrou aumento de 137% em hospitalizações por câncer em indígenas além de alta nos índices de casos de abortos espontâneos e internações por problemas respiratórios.
Os principais problemas respiratórios identificados entre os povos indígenas foram pneumonia, bronquite e asma, sendo que os maiores picos para essas doenças ocorrem entre os meses de março e junho de cada ano. É nesse período, de acordo com o estudo, que inicia no Estado o controle de pragas do algodão.
A faixa etária de 1 a 4 anos foi a mais afetada, com 7.729 internações entre 2008 e 2018, segundo o levantamento. A Terra Indígena Tirecatinga, que fica em Sapezal (480 km a noroeste), é uma das localidades mais afetadas. Ao lado de Campo Novo do Parecis (396 km a noroeste), Sapezal é o que mais produz algodão em Mato Grosso.
Respectivamente, os dois municípios possuem 198.843 e 110.137 hectares de área plantada com a cultura. Sendo a cultura agrícola que mais utiliza os defensivos no Estado, as instituições apontam a relação entre a exposição aos agrotóxicos e as incidências de doenças respiratórias em índios.
Ao todo, segundo o estudo, o cultivo de algodão usa, em média, 28,6 litros por hectare. “É um desastre isso que está acontecendo com a gente”, lamenta Edna Zoloizoqueimairo, indígena Paresi que vive na TI Tirecatinga e sente impactos na fauna, na flora, e na saúde das comunidades.
“Eu não posso mais ter filhos, mas meus filhos e netos podem. Já vou ter tataranetos e o futuro deles não vai ser bom, porque o agrotóxico vai chegar na vida deles, no sangue deles”.
De acordo com a Opan, estima-se que, em Mato Grosso, cada habitante foi exposto a 65,8 litros de agrotóxicos em 2018. Em algumas cidades do interior, a exemplo de Sapezal, Santa Rita do Trivelato, Campos de Júlio, Sorriso, Lucas do Rio Verde e Campo Novo dos Parecis, estima-se que o valor de exposição ultrapasse 300 litros por habitante/ano.