Jornal Nacional
O anúncio do tarifaço de Donald Trump a partir de 1º e agosto já está causando prejuízos para as empresas brasileiras. Exportadores precisaram acelerar a produção com horas extras para enviar as mercadorias antes da nova taxação.
Uma máquina de fazer salgados levaria pelo menos um mês para ser fabricada. Agora, precisa ficar pronta em cinco dias. Para escapar do tarifaço de Donald Trump, uma indústria em São Paulo montou uma operação de guerra para agilizar a entrega dos equipamentos já encomendados.
"Nós temos uma fábrica de peças e temos outros fornecedores que nos fornecem as peças. Então, nós temos que acelerar com eles também. Além disso, vamos fazer um turno muito grande para a gente poder trabalhar de sábado, trabalhar domingo. Esses dois sábados e domingos vamos estar trabalhando para tentar terminar todas as máquinas", conta o diretor da empresa Gilberto Poleto.
Todo esse esforço para evitar a nova tarifa já trouxe impactos para o faturamento da empresa. O pagamento de hora extra dos funcionários, o pedido antecipado de insumos e o preço do frete por avião - que já está mais caro porque a procura aumentou - terão um impacto de pelo menos 10% no custo total de produção. Um valor a mais para evitar os 50% de tarifa anunciados para o dia 1º de agosto.
Para vender o que fabrica no Brasil, a empresa mantém uma subsidiária nos Estados Unidos. Agora, está pensando em fazer mudanças.
"Vamos tentar fazer, sei lá, tipo montar a máquina nos Estados Unidos. Se isso persistir, vamos ter que inventar algumas coisas que não estavam nos nossos planos no primeiro momento”, conta Gilberto Poleto.
Em Minas Gerais, uma indústria de fornos rápidos, usados em redes de fast food, também corre contra o tempo. Eles exportam mais de 10% da produção para os Estados Unidos.
"Nós temos que, do dia para a noite, encontrar alternativas para poder antecipar essas entregas para o mercado norte-americano. Mas, mais do que isso, são os desafios de como é que a gente vai continuar sendo competitivo naquele mercado”, diz o diretor-geral da empresa Luiz Eduardo Rezende.
Mas nem todas as indústrias têm condições de antecipar as entregas. É o caso do pescado. Os compradores americanos suspenderam as encomendas porque, de navio, o carregamento só chegaria quando a nova tarifa já estivesse em vigor. Na Bahia, em Pernambuco e no Ceará, 58 contêineres carregados de peixes e frutos do mar começaram a ser levados de volta para as empresas.
O presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Pescados, Eduardo Lobo, alerta que muitos empresários não terão para quem vender o produto em um primeiro momento e que haverá perda de empregos:
"O mercado americano representa 70% de todas as exportações de pescado brasileiro. E o pior: a gente não tem um mercado alternativo para absorver essa produção. Óbvio que o empresário vai interromper a produção, vai fazer demissões e, com o tempo, vai tentar escoar todo o seu estoque comprado para exportar para o mercado americano para outros mercados secundários”.
Já o presidente da Associação Nacional da Micro e Pequena Indústria, Joseph Couri, ressalta que especialmente aquele exportador menor não vai conseguir absorver o impacto:
"Ele não tem capital de giro para bancar essa operação. Segundo, ele não tem margem, ele não tem rentabilidade e sequer recursos financeiros para mudar o sistema de transporte, por exemplo, de marítimo para aéreo. Os pequenos negócios fatalmente serão muito prejudicados”.